OPINIÃO: Tripper.pt no Azores Fringe
2019-05-30
Tripper.pt no Azores Fringe
por Sandra Henriques Gajjar
Costumo deixar as escritas do Fringe para o blog, mas gostava de partilhar o texto abaixo. Senão com os açorianos todos, pelo menos com a família Fringiana.
Costumo dizer aos turistas que os Açores são muito mais que vacas a pastar e filas de hortênsias azuis. Os olhos deles abrem-se de espanto quando lhes falo do Azores Fringe Festival; é raro não se seguir um "uau". Percebo a surpresa. Como raio se faz um festival de artes independente numa região ultra-periférica e que ainda por cima saltita de ilha em ilha? Sabem, "é que nas veias corre-[nos] basalto negro / e na lembrança vulcões e terramotos". Não há mar (oceano, insistiria a escritora Carolina Cordeiro e com razão!) nem linha do horizonte que páre esta força.
O Azores Fringe Festival vai na sétima edição e eu vou na minha terceira participação -- a segunda no Encontro Pedras Negras, a primeira numa das minhas ilhas, as Flores (a outra é o Corvo). Nenhuma das edições foi aborrecida nem sequer igual à outra. Em todas elas conheci verdadeiros artistas, pessoas dotadas de uma incrível criatividade que, apesar da insularidade ou de outros obstáculos menos geográficos, não cessam de criar.
Como blogger de viagens, deveria andar a saltitar de destino em destino, nunca dando mais de mim do que alguns dias num país novo ou numa cidade nova.
Talvez por não me encaixar nesse modelo tenha abandonado a escrita genérica de viagens e me tenha dedicado a um nicho que gosto de chamar turismo cultural sustentável (ênfase no cultural e no sustentável).
Deixem-me que vos conte o que é isto de escrever sobre turismo cultural sustentável. Eu uso o meu blog Tripper para dar palco aos eventos culturais independentes e aos artistas locais que, seja por que motivo for, habitualmente não são considerados dignos de notícia.
Quando os Açores deixarem de estar na moda, quando já não houver recantos escondidos para Instagramar, quando já não houver prémios e listas de tops é o turismo cultural sustentável e eventos como o Azores Fringe Festival que nos vai salvar de sermos um destino igual aos outros.
Depois de um fim de semana intenso em que falámos com um anfiteatro cheio de alunos adolescentes, em que se lançaram dois livros, em que se inauguraram três exposições de arte, em que se assistiu a teatro inédito e ouviu música original em viola da terra, dificilmente se vai poder continuar a dizer que não acontece nada nas ilhas...
Aos artistas Açorianos com quem tive o privilégio de estar -- os que são daqui de sangue, os que são "de fora" mas têm o mesmo basalto a correr-lhes nas veias, os que amam as ilhas à distância e nunca se desprendem da sua insularidade -- digo vocês são únicos. E enormes. E é um orgulho tremendo poder dizer que um dia estive convosco na ilha das Flores no arranque do Azores Fringe Festival em 2019.